terça-feira , 10 dezembro 2024
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Coluna Saúde Mental: O que é Depressão?

depressaoPor Lenilson Ferreira

Quase todos os dias eu ouço esta pergunta. São pessoas que me procuram em meu consultório, que frequentam as palestras que faço em várias instituições e que me enviam mensagens via internet de várias partes do mundo.

A resposta para esta pergunta é de extrema importância atualmente, porque a depressão se transformou em uma epidemia que atinge indistintamente todos os países, levando milhões de pessoas no mundo ao suicídio, às drogas, à desestruturação de famílias e à ruína de suas carreiras profissionais.

Dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde indicam que a depressão é a segunda maior causa de incapacitação humana na atualidade e que pulará para o primeiro lugar em 2030.

A depressão – doença que afeta o cérebro, a mente e o corpo – é causada por uma combinação de fatores genéticos, ambientais e psicológicos. Caso haja algum caso confirmado de depressão em sua família, você tem a predisposição de ter esta doença, pois os genes têm um peso de cerca de 50% entre suas causas. Se você for mulher, suas chances são 200% maiores de ter depressão.

Estima-se que cerca de 19 milhões de adultos sofram de depressão nos Estados Unidos, mas há quem afirme que este número pode ser muito maior devido às dificuldades de diagnóstico. Esta doença é a quarta maior em incidência entre jovens americanos com idade entre 3 e 17 anos. Nesta faixa etária, segundo estudos realizados por autoridades da área de saúde, cerca de 20% dos jovens sofrem de transtornos mentais, incluindo o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de conduta, ansiedade e depressão.

Existem muitos mitos e preconceitos que tornam a identificação e o tratamento da depressão uma árdua tarefa. É importante frisar que a depressão afeta pessoas de todas as idades, pois ainda há quem acredite que criança não tem depressão. Isto é um grave erro, pois ela atinge pessoas cada vez mais jovens. É comum também vermos pessoas afirmarem com forte convicção que não têm depressão porque trabalham muito e têm a “mente forte”. Esta crença é fruto da desinformação, pois hoje nós sabemos que a depressão pode surgir sem uma causa aparente e nada tem a ver com a atitude mental que se possa ter.

Ao ler e receber estas informações, você deve estar se perguntado se você ou alguém próximo a você tem depressão. Esta dúvida é muito comum. As pessoas costumam confundir tristeza com depressão. Tristeza é o que sentimos quando alguma aflição nos atinge, quando coisas ruins acontecem em nossa vida. Tristeza tende a passar com o tempo. A tristeza que é característica da depressão não passa com o tempo. Ao contrário, ela tende a piorar se não for corretamente tratada através da terapia e dos medicamentos.

Outro sintoma comum à depressão é a perda de satisfação com coisas que antes nos alegravam muito. Jorge tem 40 anos e sempre gostou de jogar bola com os colegas ao menos uma vez por semana. Há algum tempo ele começou a perder inteiramente o interesse por este hobby. Logo a seguir, ele perdeu completamente o interesse sexual por sua esposa, embora continuasse a amá-la. Seu casamento quase acabou quando a esposa começou a achar que ele não gostava mais dela. Iniciamos uma terapia com o casal e, paralelamente, com o Jorge individualmente. Após seis meses de tratamento, Jorge consegue controlar os sintomas mais graves da depressão e seu relacionamento com a esposa vem melhorando progressivamente.

O preconceito contra a depressão está tão arraigado que é comum que o doente esconda a doença de seus familiares e de seus amigos. Isto contribui para o aprofundamento da doença, uma vez que o isolamento afeta fortemente sua autoestima. Alguns de meus pacientes não querem que suas famílias, principalmente seus filhos, saibam que eles têm depressão porque não querem ser vistos como “pessoas fracas”. Uma paciente com depressão uma vez chegou ao consultório chorando. Havia acabado de comprar uma revista sobre a doença em uma banca de jornal. Quando pediu a revista, a reação do jornaleiro foi chocante. Ele perguntou se ela tinha depressão e ela respondeu que sim. “Que vergonha! Uma moça tão jovem e tão bonita! Tire isto da sua cabeça e você vai se sentir melhor”. Esta foi a terrível reação do jornaleiro mal informado.

Uma paciente que atendo online através do Skype relata que todos os dias pensa em suicídio e que já tentou se matar por três vezes. Maria (nome fictício) tem 30 anos e é filha de uma mulher que só iniciou o tratamento de sua depressão nos últimos anos de sua vida. Esta triste realidade fez com que brigas e discussões fossem constantes em sua família desde a infância. Sua mãe era sempre criticada por se isolar e não querer contato com ninguém, inclusive os filhos e o marido. Este tipo de comportamento é comum em quadros depressivos, incluindo a possibilidade de suicídio.

O suicídio é frequente entre pessoas com depressão e que não são tratadas. No ano de 2010, ele foi a segunda principal causa de morte entre adolescentes nos Estados Unidos e é mais comum entre adolescentes do sexo masculino. Tratar pessoas com depressão, portanto, significa também evitar mortes através do suicídio.

É necessário que o profissional da área de saúde mental tenha muita paciência e que dê o necessário acolhimento emocional ao doente de depressão. É muito comum que eu precise realizar algumas sessões no consultório para que o paciente se convença de que tem depressão, embora já tenha vindo do psiquiatra com este diagnóstico. “Eu não posso melhorar só com força de vontade?”. Ouço esta pergunta com muita frequência.

A Federação Mundial para a Saúde Mental recomenda que o tratamento de pacientes com depressão envolva quatro passos: fornecimento de informações claras ao paciente e à família, uma terapia como a psicanálise, a utilização de medicamentos prescritos por um médico psiquiatra e a formação de uma rede de apoio emocional composta por familiares e amigos do doente. A eficaz combinação destes quatro fatores aumenta a possibilidade de que se tenha uma melhor qualidade de vida com a remissão dos principais sintomas que mais afligem o paciente.

Caso você tenha alguma dúvida com relação à depressão, envie uma mensagem para o e-mail abaixo e lhe enviaremos as orientações necessárias. Você pode usar um pseudônimo, caso não queira se identificar. Boa Saúde Mental a Todos!

  • lenilson ferreiraLenilson Ferreira – Psicanalista
  • professorlenilsonferreira@gmail.com

 

 

 

 

Psicanalista, escritor, professor universitário e palestrante. 54 anos. É Membro Individual da Federação Mundial para a Saúde Mental (World Federation for Mental Health). Mestre em Ciências Pedagógicas. Graduado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro em Línguas e Literaturas. Fundador do Grupo de Apoio à Pessoa com Depressão (GAP), entidade que realizada trabalhos filantrópicos na cidade do Rio de Janeiro. É pesquisador da área da depressão e da bipolaridade. Trata de pessoas com depressão em seu consultório e através da internet. É autor dos livros Psicanálise – o que ela pode fazer por você, Etimologia – Chave para a Psicanálise e O Delírio de Chronos. É consultor na área da Saúde Mental entre empresas e instituições de ensino, com foco na qualidade do desempenho profissional através da estabilidade das emoções. Está atualmente escrevendo um ensaio intitulado Saúde Mental do Educador, com foco nas dificuldades emocionais que os profissionais da educação enfrentam no exercício das atividades educacionais. Foi colaborador da Agência Japonesa de Notícias Kyodo News durante 20 anos, período no qual foi membro da Associação de Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Rio de Janeiro.

Um comentário

  1. Muito bom o texto, me identifiquei !

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