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Luiza Brunet: Força Feminina

A Alô Você Magazine faz aniversário esse mês! Vem relembrar com a gente alguns fragmentos da nossa trajetória.

Escolher trabalhar com o enfrentamento da violência doméstica foi minha melhor escolha, eu sinto que estou no meu melhor momento como pessoa e ser humano

Modelo com uma carreira consolidada, novelas no currículo e, atualmente, um nome muito importante na luta contra o feminicídio, Luiza Brunet tem muita história para contar, não é atoa que em breve poderemos assistir um filme sobre sua vida. Ícone de beleza nos anos 80, ela conseguiu abrir as portas para a visibilidade das modelos brasileiras e agora dá visibilidade para mulheres que lutam pelos seus direitos e contra violência. Vem conferir esse bate-papo que tivemos com ela:

A.V.M.: Você iniciou sua carreira como modelo na década de 1980. Quais foram os momentos mais marcantes dessa fase?
Luiza Brunet: O momento mais marcante dessa fase foi ter sido convidada para fazer um contrato de exclusividade com a Dijon, que era uma marca muito famosa na época. Eles tinham um case do Jeans Dijon, que virou uma necessidade de consumo de todos os brasileiros, tinha um design diferente, mais arrojado e inspirador. Depois de três anos eu tive um problema muito sério nessa empresa, pois eu trabalhava e não tinha nenhum contrato escrito, era tudo verbal. Então, tive que recorrer na justiça para finalizar esse contrato.

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Depois disso fui fazer uma carreira internacional e logo em seguida acabei sendo convidada pela Calvin Klein, que na época também deu uma alavancada enorme na minha carreira, porque as modelos brasileiras ainda não tinham essa visibilidade. Então, o fato de ter sido convidada para fotografar a campanha de páginas duplas em revistas e outdoors nos Estados Unidos me deu status novo. Quando eu voltei ao Brasil comecei a ser tratada não mais como modelo exclusiva e sim como uma top internacional. Foram momentos muito marcantes na construção da minha carreira de modelo no Brasil.

A.V.M.: Depois você migrou para trabalhos na TV e fez novelas importantes, sempre pensou em ser atriz? Como foi essa transição?
L.B.: Eu sempre fui convidada para participar de programas importantes na televisão brasileira, desde Hebe Camargo a Faustão, programas de entretenimento, mas também dava muita entrevista em programas de variedades falando sobre a minha carreira, sobre ser uma menina que veio do interior e se tornou uma mulher muito conhecida no Brasil inteiro. E aí surgiram os convites para fazer novelas, cheguei a fazer 10 novelas, mas ser atriz nunca foi a minha prioridade. No entanto, isso me proporcionou oportunidades espetaculares de trabalhar com os melhores atores, escritores e diretores da televisão brasileira. Mas com o passar do tempo acabei me dedicando mais à minha carreira de empresária, eu tenho um contrato de mais de 25 anos com a Avon e eu tenho uma linha de perfumes que é top de vendas no Brasil. Essa transição toda me fortaleceu no empreendedorismo e me qualificou.

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A.V.M.: Atualmente você posou como modelo para o fotógrafo Bob Wolfenson, você imaginava voltar a fotografar?
L.B.: O Bob é o fotógrafo que mais me fotografou ao longo da vida, fez 50 anos de carreira, fotografou para a Vogue e para a Playboy, por exemplo. E o fato de ser fotografada por ele tem uma razão: nós estamos envolvidos com movimentos de libertação da mulher, fortalecimento, empoderamento feminino. E uma fotografia nua tem muito a ver com ativismo e, até mesmo, politicamente. E o Bob é um especialista em guardar momentos da vida das pessoas, e eu achei que essa fotografia nua que fiz para a revista Elle em comemoração aos 50 anos foi para dizer às mulheres que a gente tem que amar o nosso corpo não importa a idade que a gente tenha. Temos que gostar do nosso corpo quando ele é jovem, na meia idade e na idade madura, temos que nos se sentir bem e confortáveis no nosso corpo, podemos fazer o que quisermos com ele, ele nos pertence.

A.V.M.: Além de todo seu trabalho na mídia como atriz e modelo, você tem um papel importante na luta contra a violência doméstica. Conte um pouco sobre essa luta!
L.B.: Desde muito jovem sempre estive e estou envolvida com pautas que dizem respeito ao ser humano, a fome, as necessidades básicas das pessoas, amamentação, campanhas de todos os tipos, isso já está no meu DNA desde que eu era muito menina, sempre gostei de ajudar e de estar disponível para esse tipo de ajuda. Eu me tornei embaixadora da Avon por quase 10 anos e já tinha uma noção real do que estava acontecendo no Brasil em relação à violência contra as mulheres. A minha própria história tem esse tipo de problema. Vivenciei muitas violências contra minha mãe, vivenciei também violência moral, violência sexual na minha vida de adolescente, na minha vida de modelo e na vida adulta. Quando sofri uma violência do meu ex-companheiro decidi romper esse ciclo da violência e fazer uma denúncia contra ele. A denúncia foi muito importante porque levantou essa temática, até então não tinha aparecido uma mulher com a visibilidade que eu tinha para fazer esse tipo de denúncia para que a sociedade tivesse uma noção do que realmente acontece no Brasil. E essa pauta foi se fortalecendo e me fortalecendo também, comecei a participar de muitos eventos no Brasil e fora também. Escolher trabalhar com o enfrentamento da violência doméstica foi minha melhor escolha, eu sinto que estou no meu melhor momento como pessoa e ser humano, prestando serviço e me colocando de prontidão para que a gente possa conversar sobre esse tipo de pauta e tentar minimizar o sofrimento das pessoas.

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A.V.M: O número de denúncias vem aumentando, principalmente neste cenário de pandemia?
L.B.: Sim, o número de denúncias é absurdo. Infelizmente só 10% das denúncias são feitas, ou seja, de cada 10 mulheres só uma faz a denúncia. Os números que aparecem são muito menores do que a realidade representa. A ONU já disse que a maior pandemia da humanidade é a violência contra a mulher, ela é maior do que a fome, do que a pandemia que estamos vivendo e a pandemia agravou muito esse número, porque as famílias começaram a viver dentro de casa mais tempo.

A.V.M.: Atualmente você também tem um projeto para um filme biográfico, como surgiu a ideia e o que pretende retratar no longa?
L.B.: Eu fui convidada por Carolina Kotscho, roteirista e diretora que fez o filme “Dois Filhos de Francisco”. A Carolina é roteirista da Globo, ela já fez vários filmes e séries. Quando ela me convidou para fazer um filme sobre a minha vida eu achava que não tinha nada a contar, mas ela foi me falando sobre coisas que eu tinha feito e que seriam importantes de retratar no cinema. A gente vem conversando sobre isso já está com o filme bem encaminhado, mas infelizmente com essa pandemia e alguns acertos precisamos postergar um pouco. É um filme que vai contar a minha história desde que eu era criança no interior do Mato Grosso, sobre a minha carreira de modelo nos anos 80 e vai trazer toda essa temática de violações contra as mulheres e meu ativismo. Eu estou muito feliz de ser convidada para esse projeto, todo mundo tem uma história diferente para contar e eu tive muito sorte de ter sido convidada para contar a minha história e espero que as pessoas sintam vontade de ver meu filme.

Fotos: @pinogomes | @pino.oficial | @mauricio.ribeirox | @sambajuliana | @lurechmakeup | @maramax

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