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Advogado John Vandenberg: O Direito é Para Todos

Um trabalho duro, humano e de persistência levou o advogado John Vandenberg a ser um dos nomes mais requisitados na área de direito da imigração. “Aprendi que a regra número um da imigração é manter o cliente aqui nos EUA, é ganhar tempo, porque a lei muda e a lei pode mudar a favor dos imigrantes”.

  • texto: Ana Carolina Contri
  • fotos: Jeff Anderson

Autodidata, o advogado John Vandenberg, aprendeu a falar português sozinho para poder atender melhor seus clientes. Atuando há 17 anos na área de imigração, ele sabe que o envolvimento com todas as histórias que passam pelo seu escritório é importante para entender e tratar cada caso com todo cuidado e atenção que eles merecem. Dedicação e entendimento de cada história em particular fazem a diferença em seu trabalho na hora de conquistar o tão sonhado visto para os imigrantes que querem estar legalmente no país. Para John, o fato de ter recebido o prêmio Best Lawyer por vários anos não é sua conquista mais importante, o prêmio, como ele mesmo diz, é quando um cliente o procura no escritório para receber seu aconselhamento. Confira um bate-papo com esse importante nome do direito de imigração!

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ALÔ VOCÊ MAGAZINE: Você é um autodidata. Como você aprendeu a falar português?
JOHN VANDENBERG: Eu aprendi português sozinho. Para mim é importante poder falar com os clientes, entender quem depende de mim. Foram 2 anos aprendendo somente para começar a falar. Para aprender mais, por exemplo, eu escuto a rádio Itatiaia de Belo Horizonte, eu tenho muitos clientes de lá, e também uso o Netflix, onde vejo muitas séries brasileiras. Agora a minha meta é ler o livro de Paulo Coelho, o Alquimista. Eu quero ler tudo isso em português.

A.V.M.: E como foi a escolha para trabalhar com a área de imigração?
J.V.: Quando eu estava estudando direito eu tinha como objetivo praticar o direito internacional, estudei muito sobre as leis de negócios e governos internacionais, mas o meu primeiro trabalho, quando eu era estudante, foi em um escritório de direito de imigração e desde o meu primeiro dia atuando nessa área eu entendi como funcionam as leis internacionais. Aprendi que a regra número um da imigração é manter o cliente aqui nos EUA, é ganhar tempo, porque a lei muda e a lei pode mudar a favor dos imigrantes.

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A.V.M.: O COVID-19, entre tantas outras mudanças, parece que também trouxe algumas peculiaridades que envolvem imigração. Isso afetou a nossa comunidade?
J.V.: Muito! Afetou o processo de imigração e as entrevistas. Todos os escritórios de imigração estão fechados, mas mesmo quando estão abertos tem distâncias sociais. Geralmente, nas salas de espera ficam centenas de pessoas, agora apenas 20 ou 25, o que deixa o processo ainda mais lento. Além disso, há três meses que essas entrevistas não acontecem, existem muitas pessoas esperando por elas. Na minha opinião, o processo de imigração vai ser mais lento e com a administração de Trump ainda mais, pois eles querem usar como desculpa o COVID-19 para atrasar ainda mais os processos. Mas o que não faz sentido é porque os cidadãos que já estão aqui nos Estados Unidos não podem pegar seus vistos pelas embaixadas. Acredito que a ideia é parar completamente a imigração.

A.V.M.: Como mudaram as leis de imigração durante a presidência de Trump?
J.V.: Para mim o mais importante agora é o formulário I-944, um formulário em que você precisa provar ter dinheiro e educação suficiente para ser um imigrante documentado. É um formulário muito difícil até para os advogados, podemos levar mais de 10 horas para responde-lo. Uma pessoa preenchendo tudo isso sozinho e sem ajuda de um advogado de imigração pode ter muitos problemas, e é exatamente o que o Trump quer. Ele quer criar atrito para a informação e requerimento do formulário, atrito para o envio. Tudo isso para criar um processo difícil para os imigrantes e fazer com que eles desistam. O formulário tem que ser preenchido exatamente como eles querem, precisa que todos os documentos sejam enviados corretamente.

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A.V.M.: Como você vê o clima político na lei de imigração e na reforma imigratória?
J.V.: O direito de imigração começa a excluir os imigrantes. A lei de imigração é totalmente para excluir pessoas, inclusive durante a entrega dos formulários e ali já identifica pessoas que não podem imigrar. Imigrantes, às vezes, creem que os advogados de imigração têm o Green Card no escritório e eles só precisam vir aqui e pegar, o que não é verdade. Eu respeito os oficiais de imigração, eles têm um trabalho difícil, mas o assunto de imigração é política 100%. Neste momento ela está mais difícil, e o trabalho do advogado de imigração é achar uma maneira para ajudar os clientes. Quando a imigração fecha uma porta, temos que achar uma outra forma para conseguir esse visto e ganhar tempo para termos chance de consegui-lo.

A.V.M.: Durante o Covid-19, com escolas fechadas, como podem aqueles com visto de estudante continuar legalmente no país?
J.V.: Quando começou a quarentena, ICE tinha regras especiais para estudantes e eles podiam estudar com aulas 100% virtuais. Recentemente o ICE tentou acabar com as regras especiais, com uma nova diretriz determinando que estudantes internacionais precisariam escolher entre estudar face-a-face (e encontrar escolas que ainda ofereçam aulas presenciais), ou voltar ao seu país de origem. Contudo, universidades tem muita voz nos Estados Unidos, então elas entraram com um processo apoiado por vários estados para derrubar essa diretriz e manter as regras especiais. Por conta desta ação, o governo voltou atrás e estudantes internacionais podem voltar a ter aulas online no momento. Vale lembrar que estudantes internacionais são muito importantes para as universidades do país, pois eles pagam pelos estudos sem precisar de ajuda do governo; perdê-los é um grande problema para elas.

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A.V.M.: Na nossa comunidade, ouvimos muito falar sobre o processo VAWA, mas muitas pessoas, especialmente mulheres, quando vítimas de abuso (físico, sexual, mental, verbal, financeiro) tem receio até de recorrer a polícia, com medo de acionar a imigração. O que é o VAWA?
J.V.: Atualmente eu estou representando clientes dando entrada no VAWA e, infelizmente, existem esses casos. É importante as pessoas saberem que elas não têm de ter medo da imigração e, especialmente em Philadelphia, não precisam ter medo da polícia, os policiais sabem que quando uma pessoa é uma vítima de abuso doméstico ela precisa de ajuda. E, também, muitas pessoas não sabem disso, mas aqui em Philadelphia, se uma pessoa fala com alguém do governo eles tem o direito a um tradutor. Muitas pessoas também não sabem que o VAWA protege os homens também. É importante dizer que homens e mulheres podem aplicar para o VAWA. O mais importante, claro, é falar com os policiais e cooperar com eles, além de falar com um advogado de imigração. Nós podemos ganhar um caso falando sobre abuso mental, abuso físico, mas precisamos de tempo para ganhar confiança, para o cliente confiar em nós e entender que nós estamos do lado dele. O processo do VAWA é uma maneira importante de conseguir ficar aqui nos Estados Unidos.

A.V.M.: O visto de investidor continua parte das opções de processo de imigração?
J.V.: Sim, para ser um investidor aqui é necessário investir 900 mil dólares em seu negócio especializado ou se não é o tem, precisa investir 1 milhão e 800 mil dólares em um negócio. Geralmente esses investidores precisam esperar de 27 a 36 meses para uma aprovação, já se você é um trabalhador consegue mais rápido um visto do que um investidor.

A.V.M.: Pode explicar o que é o processo de asilo?
J.V.: Uma pessoa aqui nos EUA que passou por uma situação traumática e/ou difícil no Brasil, ou tem medo de voltar para o Brasil, por conta de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou político, pode pegar o asilo. Geralmente precisamos de um ano para isso se aplicar, existem exceções, mas geralmente leva um ano. Na entrevista, com um oficial de imigração, geralmente é perguntado por que a pessoa tem medo, o que aconteceu, o que acha que vai acontecer se você voltar ao seu país. Aí o oficial pode aceitar sua aplicação para pegar o asilo, mas se o oficial não der o asilo, a pessoa pode tentar obter asilo diante de um juiz na corte de imigração, o que pode ser mais difícil, porque lá tem um advogado do governo que vai tentar mostrar para o juiz que a pessoa não tem provas do que está falando ou não pode pegar o asilo porque tem cidadania de outro país, concluindo que ela pode ir para esse outro país em que ela tem cidadania.

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