Uma Jornada de Fé e Arte entre o Nordeste e os EUA
O Coletivo Candiero, fundado por Marco Telles e Felipe Daguia em 2014, é um movimento cristão que visa amparar os artistas do Nordeste e potencializar o dom e o talento das pessoas da região.
Marco Telles, um renomado músico, cantor, pastor e missionário do Nordeste do Brasil, passou uma temporada de 20 dias nos Estados Unidos. Telles é um dos fundadores do grupo “Coletivo Candiero” de João Pessoa, Paraíba, e autor do aclamado álbum “Amado Timóteo”. Sua experiência nos Estados Unidos foi extraordinária, refletindo não apenas sua trajetória artística, mas também provocou profunda reflexão sobre qual é o papel das pessoas no campo missionário da Igreja de Cristo.
O Coletivo Candiero, fundado por Marco Telles e Felipe Daguia em 2014, é um movimento cristão que visa amparar os artistas do Nordeste e potencializar o dom e o talento das pessoas da região. Ao entrevistar Telles na igreja comunidade da graça, em que ele veio visitar em Philadelphia, Pennsylvania, ele explica: “É como uma vitrine, da gente da Paraíba, do Rio Grande do Norte, da Bahia, Ceará, e tem dado suporte para o Nordeste. A gente percebe que ao longo da história da música cristã brasileira, sempre teve participação de gente do Sudeste, na construção do repertório nacional, gente do Centro-oeste também… mas o Nordeste nunca contribuiu de uma maneira eficaz no repertório nacional da música cristã brasileira. O Coletivo Candiero, acaba sendo esse lugar onde os artistas do Nordeste conseguem ter uma plataforma para, tanto divulgar suas canções e contribuir, quanto elaborar e construir o seu discurso.”
A crescente popularidade do grupo e suas músicas, que incorporam estilos como Samba e Maracatu e desperta o interesse em conhecer melhor a cultura nordestina, levou Marco Telles, Daniel Alves e Felipe Daguia a viajar para os Estados Unidos em agosto de 2024. O objetivo da viagem foi arrecadar fundos e adquirir os equipamentos necessários para o desenvolvimento do projeto.
Com o Coletivo Candiero, Marco Telles também criou e compôs o álbum “Amado Timóteo”, que é uma obra que explora os últimos momentos da vida do apóstolo Paulo. O álbum combina uma narrativa envolvente com músicas interpretadas por Telles, transmitindo mensagens profundas e edificantes. Marco descreve o álbum como uma tentativa de unir sua identidade como pregador e artista. “O álbum Amado Timóteo foi a minha tentativa de construir alguma coisa que reconciliasse ou uma conexão mais efetiva da minha persona pregadora com a minha persona artística, músico ou compositor. Eu acho que isso foi o maior benefício que o ‘Amado Timóteo’ me trouxe, é eu olhar pra ele e dizer, eu estou todo aqui”, diz Marco.
Durante minha entrevista com Marco Telles, ele revelou que o sucesso do álbum, que o tornou famoso por ser o primeiro compositor cristão nordestino a abordar a mensagem de uma das cartas epistolares da Igreja – a carta de Paulo a Timóteo – de princípio, gerou um certo desconforto para ele. Marco expressou: “A maior dificuldade foi me enxergar sendo tão admirado pelas pessoas, quando na verdade eu não sou digno de admiração de ninguém, eu sou um ser humano comum, então essas admirações exacerbadas, é ao apóstolo Paulo, e não a mim.”
Com uma perspectiva diferente sobre o álbum “Amado Timóteo”, Marco nos convida a entender um lado da história de Paulo que, até então, era visto apenas como versículos inspiracionais ou como uma teologia superficial. Marco conseguiu transmitir um sentimento intenso e profundo, mostrando Paulo em seus últimos dias de vida, preso e com frio, escrevendo sua última carta a Timóteo com um pedido solene: “pregue a palavra”. Durante a conversa surgiu uma dúvida, “No álbum a gente dá uma ênfase enorme em Paulo, você conseguiu captar e entender como eles eram na época. Mas se trouxermos aos dias de hoje, quem é esse Timóteo e quais são as características que o fazem serTimóteo nas circunstâncias do dia de hoje?” Marco deixou uma reflexão bonita em resposta à essa pergunta, ele diz: “A gente, na verdade, fica o tempo inteiro variando entre esses personagens. Tem dias e relações que me identifico com Paulo, mas também tem dia e relação em que me identifico como Timóteo. E tem dia e relação que eu me identifico como Demas, abandonando o evangelho por causa dos amores deste mundo. Então tem dia e relações para tudo isso, e a gente vai mudando de personagem ao longo da nossa jornada. Tem ovelhas minhas, gente que eu cuido e tenho um trato pastoral, que às vezes eu me encontro sendo uma ovelha delas, entende? E tem pastores meus, que às vezes eu me encontro sendo pastor deles.
Essa é a relação que a gente chama, no evangelho, de relação de mutualidade, algo que parece que a gente perdeu. Parece que se você é o líder, você não pode nunca ser menos que o líder, e, se você é o liderado, você tem que lutar muito para um dia chegar e sair desse status e subir pro outro. E a Bíblia sempre nos instrui a construir uma relação de maturidade, exortando-se uns aos outros, consolando uns aos outros, instruindo uns aos outros, confessando pecados uns aos outros.”
O álbum “Amado Timóteo” inspira tanto cristãos quanto não cristãos, revelando a humanidade dos personagens bíblicos e enfatizando a importância do perdão e da generosidade. Marco narra: “Se algum Paulo lhe feriu, perdoe e dê tempo ao tempo. Se algum Marcos lhe irritou, espere e veja se não se tornará útil no futuro. O sucesso de Cristo foi medido pelo seu nível de esvaziamento. É dando que se recebe.”
Durante o mês de agosto de 2024, Marco Telles viajou pelos estados de New Jersey, Connecticut, New York, Boston e Atlanta, pregando e cantando em diversas igrejas brasileiras. Desde o início, no Brasil, Marco Telles carrega a missão de pregar a palavra e reconquistar a pátria e restaurar a imagem do povo brasileiro – um povo muito diversificado, que muitas vezes foi “apagado” ou grandemente influenciado pela cultura norte-americana. Ao vir para os Estados Unidos, inicialmente com o pé atrás, Marco conheceu diversas pessoas com histórias incríveis e comentou: “Quando eu vim pra cá eu vim sabendo que Deus tinha um propósito maior do que só arrecadar dinheiro e materiais para o estúdio. Porque eu sei que Deus ama os Estados Unidos, Ele ama todas as nações, independente do que eu sinta, Deus ama o mundo e ao mundo Ele entregou o Seu Filho. Como o meu discurso sempre foi pesado para esse lado da America, eu sabia que Deus trataria meu coração e é o que tem acontecido, sobretudo a partir da minha relação com os estrangeiros, da forma como eles se comportam, o que eles sentem, o que os estrangeiros passam para chegar até aqui. O que eles passam pra sobreviver aqui, a entrega que eles tem pra comunidade norte-americana em forma geral.”
Ao retornar ao Brasil, Marco Telles carrega no coração uma nova música que encapsula sua experiência: “Somos forasteiros caminhando com um sorriso largo”.
textos por Marcelo Koga
Fotos: Arquivo Pessoal