domingo , 19 maio 2024
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Mila Burns: Quando a jornalista vira a notícia

Por Marisa Abel

Mila Burns recebeu a visita de nossa equipe na redação da Globo Internacional, em New York, e nos presenteou com uma deliciosa entrevista que fala da paixão pela profissão aos “estranhos” gostos pessoais.

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Jornalista com experiência em diversos veículos, Mila é uma brasileira que se destaca aqui nos EUA. Natural de Vitória (ES), é formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, estado onde morou durante alguns anos. Também já morou em Paris, mas adotou a América como sua estadia fixa no momento.

Há pouco mais de 4 anos vivendo na Big Apple é, atualmente, apresentadora do Globo Notícia Américas, da TV Globo Internacional e também é sócia e fundadora da produtora Gumbo Media, pela qual contribui com algumas revistas brasileiras e para a CBN.

Mila já trabalhou na TV Globo no Brasil, no Canal Futura e na Globo.com. Concluiu, em 2012, o mestrado em Estudos Latino Americanos pela Universidade de Columbia, em Nova York. Recebeu uma bolsa de estudos do prestigioso Instituto Lemann. Também possui um mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Museu Nacional). Confira como foi o nosso bate-papo.

Alô Você: Em qual momento de sua vida decidiu optar pelo jornalismo?

Mila Burns: Olha, desde muito pequenininha eu já pensava em ser jornalista. Tem vídeos em casa,  eu com 4 ou 5 anos,  fingindo estar em algum lugar fazendo reportagem ao vivo. Então acho que isso sempre foi o que pensei que seria a minha carreira para o resto da vida. É claro que houve momentos, assim como vários estudantes de jornalismo que eu encontrei nestes vários anos de carreira, que eu me questionei sobre isso, sobre a viabilidade econômica da profissão.  É uma profissão muito difícil e o mercado brasileiro não é muito maduro neste sentido. Em várias empresas os salários não são maravilhosos, se trabalha muito, inclusive nos finais de semana, feriado.  É vida de médico com salário muito mais baixo. Então pensava muito se ia dar certo, mas quando a gente faz o que ama as coisas acabam se encaminhando e foi o que aconteceu comigo.

mila burns ed5 201307 (3)Alô Você: Quais as dificuldades e facilidades do jornalismo internacional?

Mila Burns: Eu vou falar do meu caso do jornalismo comunitário internacional, que é um pouco diferente. Pra mim, uma coisa que eu acho muito difícil, como o jornal cobre o continente inteiro, é escolher quais notícias serão destaques e também cobrir todas essas áreas. Se uma cidadezinha pequena já rende um jornal imagina um continente.  A dificuldade é não ter uma equipe em cada ponto. As facilidades são as mesmas, pois ao mesmo tempo em que não temos equipe em diversos países, um repórter em cada ponto, temos brasileiros que sempre se comunicam conosco.  Eu estou sempre em contato com eles nas redes sociais. Então acho que as dificuldades e facilidades vêm dos mesmos lugares.

Alô Você: Se você pudesse colocar uma “chamada” para apresentar sua vida como seria?

Mila Burns: Que difícil isso. Posso “colar” do que fiz para a Marie Claire ontem? (Risos): “Depois de morar no Rio e em Paris a capixaba Mila Burns vive há quase 5 anos em Nova York. É jornalista, antropóloga e atualmente cursa doutorado em história.  Desvendar os segredos da Big Apple é seu passatempo preferido!” Eu gosto muito de arte, de estudar e de bichos. Acho que minha apresentação seria mais ou menos assim.

Alô Você: Você já passou por diversos programas.  Qual tipo de reportagem mais gosta de fazer?

Mila Burns: Eu me sinto muito em casa fazendo Globo Notícia América, jornalismo hard news é o que aprendi na faculdade, foi o que fiz no primeiro emprego, são minhas areas de conforto. Mas o Planeta Brasil foi um desafio muito grande porque mistura jornalismo com entretenimento.  Talvez seja mais entretenimento do que jornalismo e acho que isso não só me deu essa sensação de fazer uma coisa nova, de estar me redescobrindo, como era um dia a dia muito prazeroso.

Alô Você: Como você analisa os meios de comunicação hoje?

Mila Burns: Eu acho muito difícil falar disso como uma coisa ampla. Tem casos admiráveis principalmente na imprensa americana e britânica, cada um com sua particularidade. Gosto muito da The Economist,  é uma revista muito sólida em termos de conteúdo. Gosto de ler a New Yorker também que acho admirável em termos jornalísticos. Em tempos onde se fala que tudo vai quebrar por causa da Internet,  uma revista ainda se permite fazer textos de 10 páginas, gastar com viagens de jornalistas, investir em reportagens longas que demoram até seis meses para serem feitas e com textos maravilhosos. Também acho que The New York Times é um bom case para isso, onde se questiona sobre os meios de comunicação onde se acha que tudo vai acabar.

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Agora falando um pouco do Brasil, eu tenho muito orgulho de fazer parte do jornalismo da TV Globo que num momento de crise mundial conseguiu manter o padrão de qualidade.  Acho que é uma rede de televisão que não faz feio se comparada a alguma outra do mundo, e que vai muito bem. No Brasil o mercado sofre muitos abalos constantemente.  Recentemente vários cadernos de publicações importantes no Brasil fecharam o que é sempre preocupante principalmente para quem é jornalista. Acho que a tendência é melhorar.

Alô Você: A Globo recebe muita crítica, principalmente no momento atual da chamada “revolução” dos brasileiros. Como você vê isso?

Mila Burns: Eu acho que a coisa mais bonita da democracia é você ser livre para opinar sobre qualquer coisa. Feliz é o país no qual a pessoa pode criticar os meios de comunicação sem ser punida por isso.

Alô Você: Voltando um pouco para o lado mais pessoal, você tem ídolos? Quem são?

Mila Burns: Sou fã de muita gente.  Na música eu tenho fases pois tem horas que gosto mais de uns do que outros.  Atualmente estou na fase Gilberto Gil. Na minha vida pessoal, acho que uma pessoa que foi muito importante, principalmente na minha trajetória profissional, foi um antropólogo chamado Gilberto Velho, que por coincidência eu fui assistente de pesquisa dele. É uma pessoa que me acompanhou desde que comecei a estudar jornalismo.  Ele foi uma pessoa muito presente na minha vida.

Alô Você: Como você divide seu tempo entre a Globo e sua empresa?

Mila Burns: A minha empresa na verdade é o mais tranquilo porque é uma empresa de dois funcionários, eu e meu marido.  Ela não toma nosso tempo mas sim nos ajuda a administrar melhor no meio de tantas atividades. O que é mais difícil administrar é entre a TV e os estudos.

Alô Você: Fale um pouco da necessidade de criar a Gumbo Media.

Mila Burns: Foi mais uma necessidade de organizar nossas frentes de trabalho. São muitas frentes de atividade que ficam confusas;  acho que todo imigrante sabe do que estou falando. A empresa foi mais uma ideia de organizar o meu tempo e o do Francisco, meu marido.

Alô Você: O que te faz sentir aliviada?

Mila Burns: Tem três coisas que faço que são religiosas para manter a sanidade, pois 24 horas por dia pensando em matérias… Acho indispensável ir para a academia já que o exercício me alivia muito. Andar com meu cachorro no Central Park.  Ando por ali, com o Pinduca, a perder de vista. A terceira coisa é ver filme.  Me desligo totalmente, ou vou ao cinema, ou vejo em casa.

Alô Você: Costuma fazer quais atividades culturais?

Mila Burns: Morar em NY é um privilegio para quem gosta de cultura.  Vou muito a museus e galerias.  Perto de minha casa tem vários museus e vou muito. Gosto muito de ópera também. É uma das minhas atividades preferidas aqui nesta cidade. Passo muito tempo na biblioteca pública.  É ótimo porque o acervo é maravilhoso e você interage com todo tipo de pessoa.

Alô Você: Todo mundo tem algo que gosta e não gosta, seja na atitude, físico ou personalidade. O que é marcante em você positivamente e negativamente?

Mila Burns: Tem várias coisas que não gosto em mim, mas o que eu gosto é que eu já me resolvi em aceitar as coisas que não gosto em mim e nos outros. Antes era muito intolerante, era muito perfeccionista, achava que isso era elogio e hoje acho que não é muito saudável ficar se empurrando e se exigindo. Tenho muitas manias, uma teimosia que não me agrada muito, mas estou brigando com ela e a melhorar todo dia, mas isso ainda me desagrada bastante.

Alô Você: Você sente falta de viver no Brasil?

Mila Burns: Sinto muita falta dos amigos e família. Esse era um momento que eu gostaria de estar no Brasil e ver de perto isso que está acontecendo, “a tal revolução” como você diz. Sinto falta quando vejo um grande acontecimento, ou quando tem uma reportagem que gostaria de cobrir e eu estou aqui.  Esse tipo de coisa ainda dá uma dorzinha de cotovelo. Não me acostumei, acho que a gente aprende a levar, mas a saudade fica ali.

Alô Você: Quais foram motivos que a levaram viver definitivamente em NY?

Mila Burns: Mudei por causa de trabalho. Fui convidada para apresentar o Planeta Brasil, e fiquei por 2 anos. Estava tudo muito bem lá, não foi no desespero, mas já tinha vontade de morar fora de novo e aceitei.

Alô Você: O que prende seu olhar?        

Mila Burns: Eu sou muito estranha.  Hoje todo mundo se prende ao celular e eu não, gosto de ver as coisas do cotidiano. Presto muito atenção na rua. Outro dia passei diversos minutos prestando atenção a um pato comendo um peixe. Meu olhar vai para as coisas comuns do dia a dia, e se prendem ali. Tenho uma facilidade incrível em me distrair. Enquanto todo mundo sai para a rua e fica conectado no celular, nas redes sociais, enviando e vendo o que acontece neste mundo virtual eu não, fico olhando o que passa ao meu redor e às vezes me pego prestando muita atenção em algo bem corriqueiro.

Alô Você: Existe alguma atividade que faz sua criatividade fluir mais?

Mila Burns: Para um jornalista nada melhor para ampliar a criatividade do que ler. Quando digo leitura não é só jornal, mas também romance, ler livros que teóricamente você acha que não tem nada a ver com sua profissão.

Um comentário

  1. rosana roberts

    MILA BURNS…GAROTA INCRIVELMENTE INTELIGENTE QUE EU E MEU MARIDO DARREL ROBERTS
    TIVEMOS A HONRA DE CONHECE-LA COMO TB AO SEU MARIDO, CHICO , AQUI EM EPHRATA-PA POR OCASIAO DE NOSSA PARTICIPACAO NO PROGRAMA PLANETA BRASIL…PSRABENS MILA…VC E UMA GRAN DE JORNALISTA.

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